O verdadeiro risoto, os medos e o medo da farsa



Um dos meus maiores medos sempre foi o medo de ser uma farsa. Nesse mundo tecnológico em que me criei, muitas vezes percebi que as aparências enganam e que nem tudo que parece ser, é. Por isso, sempre tive medo de parecer ser algo que não sou. Odeio mentiras e não queria ser, eu mesma, uma mentira. Por exemplo, quando comecei a traduzir sofria desse medo, pois não era formada. Além disso, eu me questionava constantemente, será que traduzo o suficiente para ser considerada uma tradutora? Será que a qualidade está boa o suficiente para eu ser considerada uma tradutora? Será que preciso ser remunerada para ser considerada uma tradutora? (Fiz muitas traduções que foram publicadas e que não me renderam nada financeiramente). Achei que no momento em que eu me formasse, esse medo passaria, mas não passou. Foram necessários alguns cálculos de número de horas/palavras/artigos/livros traduzidos e algumas sessões de terapia para perceber que o meu medo da farsa era apenas mais um medo que faz parte da minha vida.
E a verdade é que sentir medo é algo muito natural do ser humano, mas o erro ocorre quando nos dizem que é normal sentir medo do desconhecido. Então, como eu posso estar envelhecendo, conhecendo cada vez mais coisas e sentindo cada vez mais medo? Eu acho que, na verdade, o medo do conhecido é muito maior e mais forte do que o medo do desconhecido. Quando comecei a trabalhar no hotel e percebi que as pessoas eram muito irresponsáveis, mesmo com questões bem sérias, passei a ter medo de parque de diversões. Acho que esse foi meu primeiro medo adquirido. Eu passei a pensar que se as pessoas que faziam a manutenção dos brinquedos eram as mesmas que trabalhavam no hotel, eu estava correndo risco de vida hehehe.
Outro medo adquirido pelo conhecimento foi meu medo de andar de moto. Quando fiquei três meses 100 % dependente de outras pessoas para fazer as coisas básicas do meu dia a dia e passei mais de um ano tendo dores, muitas vezes insuportáveis, passei a ter medo do veículo que dirigi por 9 anos e que andei de carona por 27.
E a cozinha? O medo de ser uma farsa na cozinha surgiu quando eu fiz hotelaria e percebi que existem muitos processos que devem ser feitos de determinada maneira para serem considerados corretos. Desde então, passei a ter muito medo dos "verdadeiros" e de ser uma farsante. O verdadeiro pão francês, a verdadeira pizza, a verdadeira quiche, o verdadeiro mousse, o verdadeiro strogonoff, o verdadeiro merengue italiano, a verdadeira caponata (a minha chamei de pasta apenas hehe), o verdadeiro guacamole, a verdadeira esfirra, o verdadeiro pão árabe, o verdadeiro faláfel, e assim por diante. Toda vez que vou escrever uma receita, fico com medo de ser uma farsa, de não estar ensinando a forma verdadeira, a forma correta. Eu sei fazer praticamente todas essas receitas que acabei de mencionar, mas me falta a coragem de postar uma receita aqui por medo de estar "errada".
Por essa razão, tenho tido cada vez mais vontade de fazer cursos de culinária, não apenas para aprender a fazer do jeito “certo”, mas para poder fazer do jeito “errado” quando achar que ele dá mais certo. Afinal de contas, quem pode garantir que pratos tão antigos tenham mesmo um modo verdadeiro de serem feitos? Eu não tenho a intenção de ser igual ao original, só quero que as pessoas consigam fazer. E, conseguir significa ter os ingredientes, ter os instrumentos e ter o tempo.
Enfim, essa receita de hoje é a receita verdadeira, mas verdadeira de acordo com o meu professor do curso que fiz quarta passada. Quem pode garantir? Eu não vi nenhum documento histórico atestando essa veracidade.
Por fim, quero dizer que ao mesmo tempo que conhecimento traz vantagens, às vezes, ignorar as verdades é uma benção.

A receita que vou colocar é de um risoto de linguiça com cogumelos. Pretendo colocar as outras receitas que aprendi no curso assim que possível.


Ingredientes 
(para uma pessoa, multiplique a receita de acordo com o número de pessoas)

4 cogumelos frescos
100 g de linguiça artesanal
Azeite para fritar a linguiça
15 g de manteiga sem sal
1/8 de cebola
80 g de arroz carnarolli (o professor falou que é melhor usar arroz importado)
50 ml de vinho tinto seco
caldo de legumes caseiro (vou fazer um caldo base para postar a receita aqui no futuro)
30 g de queijo parmesão ralado
Sal e pimenta do reino a gosto

Foto dos ingredientes para vocês terem noção de quantidades.

Modo de preparo. Comece separando todos os ingredientes. Fatie os cogumelo, pique a cebola bem pequena (o professor falou que precisa ser menor que o grão de arroz :O). Pique a linguiça em cubos e pique o alho bem picadinho.
Em uma panela em fogo médio (comece com ela fria), coloque o azeite e refogue a linguiça. Quando ela estiver dourando, acrescente a cebola.


Essa crostinha que vai formando no fundo, faz parte, não se preocupe. É ela que vai dar o sabor para o arroz.
Quando a cebola estiver no ponto da foto, acrescente o arroz e mexa por alguns minutos. Acrescente o alho. Para saber que o arroz já foi refogado o suficiente, observe o grão, ele deve estar com as pontinhas transparentes.
Deglace com o vinho (to ficando chique, viu?). Deglaçar é quando colocamos um vinho em uma panela que tem aquela crostinha da foto. O vinho faz com que a crosta se dissolva e o sabor seja incorporado. Coloque uma pitada de sal e pimenta e espere o vinho secar.
Vá acrescentando o caldo de legumes (que deve estar quente) concha a concha. Acrescente caldo suficiente para cobrir o arroz, mexa um pouco e espere secar. Vá repetindo o processo até o grão estar quase cozido. Então, acrescente os cogumelos e mais uma (ou mais) concha.

Ponto para acrescentar cogumelo


Quando o arroz estiver no ponto, acrescente o queijo ralado, misture bem e acrescente a manteiga (que serve para dar textura e brilho e, na minha humilde opinião, sabor).

Risoto pronto


O risoto deve ser comido em temperatura média, então, sirva seu prato, e aguarde uns minutinhos antes de provar.
Polvilhe com queijo ralado e ervinhas para enfeitar.



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