Mjadra: o arroz árabe e a minha entrada no mundo dos sabores internacionais


Eu sei dizer exatamente quem despertou a minha paixão por comidas diferentes, a Tatá, uma amiga da minha mãe que muito me incomodou na infância. Lembro de pensar que ela não gostava de mim, e acho que eu também não gostava dela. Sempre tive opiniões muito fortes, desde muito pequena, e a Tatá era uma pessoa (um adulto) que não gostava nada disso. Eu não entendia muito bem que era uma criança. Convivi muito com adultos e, mesmo com a chegada da minha irmã, me sentia mais próxima das pessoas mais velhas do que das crianças. E parecia que a Tatá não gostava muito disso. Será verdade, Tatá? Ou será que tudo isso é fruto de uma imaginação infantil muito fértil? Enfim, diferenças à parte, a Tatá era minha "parceira" da cozinha e gostava (pelo menos eu acho) de me ensinar a cozinhar. 

Foi ela quem me ensinou a dar aquela famosa grudadinha no fundo da panela para pegar o gostinho das coisas. Ela me ensinou a fazer carreteiro, molho vermelho, pastel (o recheio de carne moída) e esfirras. Ah, e as esfirras... Elas marcaram tão profundamente o meu ser que até hoje lembro com carinho do dia em que provei essa iguaria. Eu acho que devia ter uns 11/12 anos quando ela cozinhou esse prato na nossa casa. Lembro de cada explicação, cada detalhe, cada dica e lembro da fascinação que experimentar um prato de outro país me causou. Obrigada, Tatá, talvez, se tu não estivesses no meu caminho, eu não estaria nesse blog!

As crianças de hoje nascem comendo sushi, comida mexicana, comida chinesa, comida italiana, comida árabe e mais um monte de coisas. Porém, quando eu era pequena, Porto Alegre não tinha essa infinidade de cozinhas que hoje se espalham pela cidade. Não estou dizendo que não existiam restaurantes internacionais, mas eles eram muito menos divulgados e em uma quantidade muito menor do que o que temos agora. Então, o que a Tatá me proporcionou foi algo muito mágico para esse meu coraçãozinho de cozinheira. Ela temperou carne com um tempero Sírio que comprou em São Paulo (na época pensei Uau, e, quando tive oportunidade de voltar a São Paulo, fui atrás do tal tempero que hoje encontramos até no supermercado). Só que o mais surpreendente é que esse tempero tinha canela, sim, CANELA. Algo que eu só usava/comia com doces, estava sendo usado para temperar carne moída em uma comida salgada!?!?!

E a minha vida na cozinha pode ser dividida por esse marco: antes e depois do "dia em que descobri que canela não se usa só em doces". Vocês podem estar pensando "grandes coisas, que diferença faz isso?". Mas faz diferença, faz diferença porque foi nesse momento que descobri que existia muito mais por trás dos sabores do que eu podia imaginar. Nesse momento, percebi que cozinhar não era apenas matemática (existe MUITA matemática na cozinha), não era apenas física, não era apenas arte, não era apenas amor, existia muita química envolvida e, apesar de eu ainda não conhecer essa disciplina no colégio, hoje, olhando para trás, vejo que a química não foi apenas minha matéria predileta do colégio, ela tem sido minha matéria predileta da vida...

Tatá, mais uma vez, obrigada! Inspirada por ela, meu primeiro livro de comida internacional foi um livro de comida árabe. Mãe, obrigada por me apresentar a Tatá e por comprar esse livro para mim.

Já tem receita de esfirra aqui: http://cuisinepipi.blogspot.com.br/2012/08/siria-e-libano-esfirra-de-dia-dos-pais.html. Embora eu já tenha feito kibe muitas vezes, nunca postei uma receita aqui, vou ficar devendo. E estou postando a receita de mjadra, pois postei uma foto dela no Instagram e muita gente pediu. Então, vamos lá!

Ingredientes:
1 xícara de arroz parbolizado
1 xícara de lentilha
2 cebolas cortadas em rodelas
1 dente de alho picadinho
1/2 cebola picada
Óleo para fritar
Água para cozinhar
Sal a gosto

Modo de preparo:
Deixe a lentilha de molho em três xícaras de água por umas três horas. 

Depois desse período, retire-a da água e reserve. Refogue a cebola picada em óleo, quando estiver quase dourando, acrescente o alho e, em seguida, o arroz. Deixe o arroz dar uma fritadinha e junte a lentilha mais 4 xícaras de água fria. Coloque sal e, quando a água começar a ferver, baixe o fogo. Deixe cozinhar até a água secar.

Enquanto o arroz e a lentilha cozinham, frite as cebolas em rodelas até que elas fiquem quase queimadas. Ou frite-as na airfryer.


Sirva o arroz com as cebolas por cima.


Comentários

  1. O tempo o sabor e o aroma....

    Adorei voltar no tempo, lembrar do sabor e o aroma d`aquele tempero Árabe.
    Divino mesmo é transformar o alimento em algo que nos remete ao tempo ido, e saber
    que o sabor e o aroma são alquimias que nos dão prazeres diferentes.
    Adorei saber que fui importante nesta tua alquimia. Parabéns linda!

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    1. Agora que vi a tua resposta!! Fico muito feliz por teres gostado. Tenho entrado ainda mais no mundo da alquimia com um livro de gastronomia que comprei.

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  2. Tenho um molho de frigideira para te ensinar. É tri bom e com um sabor marcante. Bj

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